Mario Cesariny
I.
Habrá gente con nombres que les queden bien.
No es mi caso.
Cada vez que alguien me llama Mario
cada vez que alguien me llama Cesariny
cada vez que alguien me llama de Vasconcelos
se produce en mí una violenta contractura mandibular
una cuchillada atroz por atrozmente pérfida.
¿Cómo que Mario, cómo que Cesariny,
como oh dios mío eso de Vasconcelos?
¿Y por qué quieren inocular en mi cuerpo
una caricatura a todas luces marrana?
Qué andaban haciendo a la sazón los padres en los baptisterios
para recibir en plena cara semejante fajo de estructuras
tan incalificables como inadecuadas
en acto tan intransferible como la vida…puro
si yo no sé de ustedes si nada tengo en las manos yo vomito
yo no quiero
yo nunca me adherí a las comunidades prácticas de clavar con clavos
las partes más vulnerables de la materia
Yo estoy solo en este avance
de cuerpos
contra cuerpos
inexpiables.
Mi nombre si existe debe existir escrito en algún lugar
"tenebroso y cantante" suficientemente glacial y horrible
para que sea imposible encontrarlo
sin enfilar en modo alguno por la carretera
del Coraje
porque a este respecto –y creo que digo bien-
ninguna garantía de lectura gratis
se ofrece al viandante.
Por otro lado, si yo tuviese un nombre
un nombre que fuese realmente mi nombre
eso provocaría
calamidades terribles
como sacudidas de tierra
dentro de la piel de las cosas
de los astros
de las cosas
de las heces
de las cosas
II.
Habrá una edad para nombres diferentes de estos
habrá una edad para nombres
puros
nombres que magneticen
constelaciones
puras
que hagan irrumpir en los nervios y en los huesos
de los amantes
inexplicables construcciones radiantes
dispuestas a circular entre la mugre
de dos bocas
puras
Ah no será el esperma torrencial lucífero
ni la locura de los sabios ni la razón de nadie.
No será siquiera quién sabe el único maestro vivo
el fin de la espantosa danza de los cuerpos
donde pontificaste con el martillo en mano
Puesto que habrá una edad en que serán olvidados por completo
los grandes nombres opacos que hoy damos a las cosas.
Habrá
un despertar.
a antonin artaud
I
Haverá gente com nomes que lhes caiam bem.
Não assim eu.
De cada vez que alguém me chama Mário
de cada vez que alguém me chama Cesariny
de cada vez que alguém me chama de Vasconcelos
sucede em mim uma contracção com os dentes
há contra mim uma imposição violenta
uma cutilada atroz porque atrozmente desleal.
Como assim Mário como assim Cesariny
como assim ó meu deus de Vasconcelos?
Porque é que querem fazer passar para o meu corpo
uma caricatura a todos os títulos porca?
Que andavam a fazer com a minha altura os pais pelos baptistérios
para que eu recebesse em plena cara semelhante feixe de estruturas
tão inqualificáveis quanto inadequadas
ao acto em mim sozinho como a vida . . . puro
eu não sei de vocês eu não tenho nas mãos eu vomito . . . eu
não quero
eu nunca aderi às comunidades práticas de pregar com pregos
as partes . . . mais vulneráveis . . . da matéria
Eu estou só neste avanço
de corpos
contra corpos
Inexpiáveis
. . O meu nome se existe deve existir escrito nalgum lugar
«tenebroso e cantante» suficientemente glaciado e horrível
para que seja impossível encontrá-lo
sem de alguma maneira enveredar pela estrada
Da Coragem
. . porque a este respeito — e creio que digo bem —
nenhuma garantia de leitura grátis
se oferece ao viandante
Por outro lado, se eu tivesse um nome
um nome que me fosse . . . realmente . . . o meu nome
isso provocaria
calamidades
terríveis
como um tremor de terra
dentro da pele das coisas
dos astros
das coisas
das fezes
das coisas
II
Haverá uma idade para nomes que não estes
haverá uma idade para nomes
puros
nomes que magnetizem
constelações
puras
que façam irromper nos nervos e nos ossos
dos amantes
inexplicáveis construções radiosas
prontas a circular entre a fuligem
de duas bocas puras
Ah não será o esperma torrencial diuturno
nem a loucura dos sábios . . . nem a razão de ninguém
Não será mesmo quem sabe . . . ó único mestre vivo
o fim da pavorosa dança dos corpos
onde pontificaste . . . de martelo na mão
Mas haverá uma idade em que serão esquecidos por completo
os grandes nomes opacos que hoje damos às coisas
Haverá
um acordar
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