domingo, 9 de octubre de 2022

Aviso a los náufragos

 


 

Paulo Leminski


    Esta página, por ejemplo,

no nació para ser leída.

    Nació para ser pálida,

mero plagio de la Ilíada,

    alguna cosa que calla,

hoja que vuelve al gajo,

    mucho después de caída.


    Nació para ser playa,

quién sabe Andrómeda, Antártida

    Himalaya, sílaba sentida,

nació para ser última

    la que no nació todavía.

 

    Palabras traídas de lejos

por las aguas del Nilo,

    un día, esta página, papiro,

habrá de ser traducida,

    al símbolo, al sánscrito,

a todos los dialectos de la India,

   habrá de decir buenos días

a lo que se dice solo al oído,

   habrá de ser la aguda piedra

donde alguien dejó caer el vidrio.

   ¿No es así como es la vida?

 


Aviso aos náufragos


    Esta página, por exemplo,

não nasceu para ser lida.

    Nasceu para ser pálida,

um mero plágio da Ilíada, 

    alguma coisa que cala,

folha que volta pro galho,

    muito depois de caída.


    Nasceu para ser praia,

quem sabe Andrômeda, Antártida

    Himalaia, sílaba sentida,

nasceu para ser última

    a que não nasceu ainda.


    Palavras trazidas de longe

pelas águas do Nilo,

    um dia, esta pagina, papiro,

vai ter que ser traduzida,

    para o símbolo, para o sânscrito,

para todos os dialetos da Índia,

    vai ter que dizer bom-dia

ao que só se diz ao pé do ouvido,

    vai ter que ser a brusca pedra

onde alguém deixou cair o vidro.

    Não é assim que é a vida?



Versión M. Varón de Mena



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